“Uma Aventura… a escrever uma crónica” – Vencedor

O grande vencedor do passatempo “Uma Aventura… a escrever uma crónica” foi o João Pedro Casimiro Silva, com a “Crónica aos estudos”:

Crónica aos estudos

No processo do ensino e da aprendizagem, a evolução é sempre um parâmetro fundamental para se perceber o sucesso das estratégias pedagógicas. Assim sendo e tendo por base as questões dos alunos, que são o centro e o fim do ensino podemos analisar as fases sucessivas do processo educacional ao longo de uma década.

Há dez anos, numa sala de aula, em qualquer disciplina:

– Porque é que temos de estudar isto?

– Estudar permitir-vos-á vantagens no mercado de trabalho. Permitirá possibilidades acrescidas de sucesso. Estudar é uma mais-valia que vos garante um futuro.

Há cinco anos, numa sala de aula, em qualquer disciplina:

– Porque é que temos de estudar isto?

– Estudar permitir-vos-á vantagens no mercado de trabalho. Permitirá possibilidades acrescidas de sucesso.

– É isso, é. Ainda este ano ficaram milhares de professores desempregados.

E riram.

– Bom, disse a professora, eu não fiquei.

E continuou a aula.

Agora:

– Porque é que temos de estudar isto?

A professora parou por uns instantes. Não podia dizer que estudar ia garantir um emprego. Não podia dizer que estudar ia garantir o futuro. Não podia dizer que o mérito e o trabalho iam sustentá-los nos seus sonhos e aspirações. Não podia dizer isso, não só porque era mentira mas porque eles também sabiam que era mentira. Viam muito bem o que se passava. Podia dizer que estudar era um privilégio, que existiam milhões de crianças no mundo que ainda faziam sacrifícios para poder ir à escola mas ela sabia, tal como eles, que isso era demagógico.

Mas também achava que devia dar uma resposta.

– Vocês devem estudar, começou a professora com calma e olhando-os nos olhos, não porque garanta um emprego, que sabem muito bem que isso já não acontece, mas para poderem rir melhor.

– O quê?

– Quando vêem um filme ou uma série, há referências a outros livros ou filmes ou acontecimentos e se compreenderem melhor essas referências, se conhecerem mais, vão rir também muito mais. Nunca repararam nisso?

Um ou outro aluno acenou que sim. O resto estava parado a olhar para a professora.

– Quanto mais se estuda, mais poderemos rir porque o sentido de humor fica apurado. E isso não valerá a pena?

A professora ouviu pelo menos um sim, sorriu e avançou com a aula. Os alunos nunca mais voltaram a perguntar até ao final do terceiro período para que servia estudar e ela sentiu-se aliviada. Primeiro, porque assim podia concentrar-se em ensinar. E em segundo, porque se a resposta satisfizera, talvez fosse a correcta. Talvez. Mas, se assim fosse, não deixaria de ser irónico que numa cultura de massas, os motivos para estudar voltassem a ser elitistas.